luns, 6 de maio de 2024

Determinação do Límite Mínimo da Invencibilidade

Artigo de Eduardo Valente



Introdução

Como preâmbulo ao assunto deste artigo, apresentamos o seguinte Problema que na perspectiva da Composição Artística moderna, não seria considerada uma Composição Artística mas tão só um Problema “Monstro”.

 

Jogam as Brancas e Ganham

 

Na Secção de Damas da Revista Vamos Decifrar, e a partir do ano de 1949, a sua publicação seria mesmo recusada!

Veja-se o aviso que o orientador desta secção publicou no N°109, a 1 de Janeiro de 1949:

 

 

AVISO - Somos a informar os nossos leitores que, futuramente, deixaremos de publicar problemas em posições inverosímeis, isto é, fantasias. Também não publicaremos trabalhos com peças em número superior a 14. Assim, todos os productores deverão primar por compor trabalhos dentro destes moldes, o que antecipadamente agradecemos.” – Mário Diniz Vaz

 

 

Composto com 12 peças Brancas (9 PB + 3 DB) e apenas (!) 7 peças Negras (7 PN), perfazendo um total de 19 peças no tabuleiro, a este trabalho apenas se poderia conceder uma virtude: a simetria da apresentação inicial.

Tudo o resto é completamente o oposto aos cânones da arte:

·        a “desavergonhada” inverosimilhança da posição

·        a superioridade patenteada pelas Brancas – todas as peças Brancas estão passadas, podendo todas ser coroadas sem que as Negras possam fazer algo para o evitar

 

Que avaliação positiva ou comentário elogioso lhe conseguiria atribuir alguém que realmente aprecie a Arte e o Belo no Jogo das Damas?!

 

É que, até a simetria da posição tem dificuldade em se fazer notar....

Só se dá por ela 15 minutos depois!... rodando o Tabuleiro de um ¼ de hora!

 

Para qualquer Damista que se prese, uma Posição com um enunciado como este, não despertaria qualquer interesse, tão esmagadoramente lógico parece ser o seu resultado final.

Certo!

No entanto... o autor pretendeu exprimir algo através deste Problema.

Não tem o direito, Mestre? – questionou o Damista Novo.

- É surreal, não passa de uma pintura rupestre feita na pré-história da Composição Artística. Não nos merece qualquer comentário ou apreciação critica... – respondeu o Mestre.

- Ok. Vou então modificá-lo e voltarei a trazê-lo de novo à sua apreciação. – retorquiu o Damista Novo, autor do Problema, agradecendo humildemente a critica mordaz do Mestre.

 

Enquanto se afastava, embrenhado nos seus pensamentos, o Damista Novo recordou-se de uma frase famosa ...

 

 

Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo – esta frase é de Evelyn Beatrice Hall e foi utilizada em 1906 no Livro The Friends of Voltaire para resumir o pensamento de Voltaire sobre a Liberdade de Expressão.

 

 

... e tentou entender porque reagira assim tão asperamente o Mestre ao ver o seu Problema.

 

Pintura rupestre? Mas isso é bom ou é mau?

 

Pensou na Caverna de Chauvet, a 47 Km de Montélimar, no Sul de França, que abriga as mais antigas produções artísticas do ser humano conhecidas até hoje, datadas do Paleolítico de entre 30 e 40 mil anos atrás.

Só foram descobertas, por acaso, por três espeleólogos amadores, em 1994!

Lembrou-se também do Filme Caverna dos sonhos esquecidos, de Werner Herzog, que viu sobre esta Caverna de Chauvet.

As imagens que aí se encontram são “A memoria dos sonhos dos nossos ancestrais que muito tempo permaneceram no esquecimento.


Nesse mesmo dia, e depois de se deitar, pegou num dos vários livros sobre o Jogo de Damas que se amontoavam em cima da sua mesinha de cabeceira.

Folheando-o inadvertidamente, a página em que se fixou foi a centésima septuagésima quarta.

Nessa página, iniciava-se o capítulo Obreiros da Evolução.

Ao ler o título deste capítulo, assolou-lhe de novo ao espírito, a adjectivação usada pelo Mestre: Pintura rupestre!

A conexão tornou-se-lhe de repente obvia. Podia até tratar-se de um elogio! – pensou.

Nessa noite, não conseguiu adormecer sem ler o capítulo do princípio ao fim!

 

 

Obreiros da Evolução

 

Para completar este capítulo dentro da Miscelânea Histórica iremos pôr em foco a evolução do problema em Portugal. (Tratado da Enciclopédia Damista II Parte).

 

«O problema de Damas Clássicas faz a sua introdução em Portugal, pelas mãos aristocráticas de José Syder:»

... «Na verdade, Syder publica o seu «Jogo de Damas» em 1903»...

 

Depois de algumas considerações, o historiador nos apresenta uma série de nomes da aristocracia como autores de problemas apresentados no tratado de José Syder.

Porém, nada nos diz de onde José Syder extraiu esses problemas.

Se esta fase por ser considerada rudimentar não pôde fazer parte da história (ficou classificada de pré-história) e não requer maiores detalhes, estes, por sua vez, seriam muito interessantes sob o ponto de vista bibliográfico.

Foi uma omissão ou apenas falta de documentação para informar com segurança como requeria pelo sentido histórico?

Ainda no mesmo ponto do tratado um detalhe muito importante é este outro:

Diz-nos o historiador que o 1° Período começou com a secção de damas de «Domingo Ilustrado» que foi orientada por João Eloi Nunes Cardoso de Janeiro de 1925 a Agosto de 1927 e continuada até Dezembro por Artur Ferreira Santos.

Diz ainda: O mesmo espírito de concepção artística prevaleceu na secção que lhe viria a suceder em «Notícias Ilustrado» até Outubro de 1935, orientada respectivamente por: Assis da Veiga, Artur Ferreira Santos e Augusto Teixeira Marques.

Nós achamos que numa secção de damas a parte mais importante é o conceito do orientador sobre a modalidade. O que ele transmite aos leitores; como

 

 

transmite; e de que modo está influenciando os seus espíritos.

Assim deviam ser incluídas nesse 1° Período, as composições daqueles orientadores.

Só foi citado João Eloi Nunes Cardoso mas sabemos que existem trabalhos dos restantes dirigentes de secções de damas, menos Assis da Veiga.

Quem foi Assis da Veiga no Problemismo que para nós ficou tão desconhecido?

Teria sido apenas um orientador intruso ou tratar-se-ia de um compositor que se escondeu atrás de um pseudónimo, dos muitos que nos são familiares?

Se, historicamente este facto não tem grande significado, artisticamente reveste-se de um interesse equivalente ao paradoxo apontado a Eloi Nunes Cardoso que possuindo o repositório de todos os problemas clássicos espanhóis, desprezou sua técnica evoluída para dedicar-se à divulgação dos quebra-cabeças onde o conteúdo artístico é quase nulo.

Teriam aqueles dirigentes um conceito pessoal sobre composição diferente daquilo que publicavam em suas colunas?

Quem poderá responder?

Um outro pormenor que em nossa opinião tem grande interesse, seria conhecer-se qual foi, exactamente, o primeiro problema que em Portugal se publicou de autoria portuguesa.

Não importa se pertence à pré-historia e se está ou não apenas esboçado o conceito da composição de um problema, o que interessa é conhecer como era esse problema e quem foi o seu autor.

 

***

 

Ndlr: Este Capítulo Obreiros da Evolução, foi transcrito na integra da obra ABC do PROBLEMISTA (Pág.174 e 175) escrita pelo Mestre António Eduardo Igrejas, cuja publicação como Separata da Enciclopédia Damista, foi terminada em Dezembro de 1978.

 

Na separata da Enciclopédia Damista Bibliografia de Damas Clássicas, escrita pelo Eng. Duarte Silva e pelo Dr. Sena Carneiro, podemos ver que a primeira publicação do Jogo de Damas em Portugal surge no ano de 1806 com a impressão Régia da Academia dos Jogos. No seu Tomo V, esta obra dedica as primeiras 80 páginas às leis do jogo, à numeração do tabuleiro, às saídas do jogo prático (é uma copia parcial do Tratado de Cecina Rica) e publica 52 problemas, todos tirados dos Tratados espanhóis.

 

Academia dos Jogos - Tomo V

Ano 1806


Entre esta obra régia Academia de Jogos do ano de 1806, e a seguinte publicação do Jogo de Damas em Portugal, passar-se-ão 76 anos!

 

Folheto Jogo de Damas – José Augusto de Magalhães Brandão

Ano 1882

 

Só em 1882, é editado em Guimarães, por José Augusto de Magalhães Brandão, o Folheto Jogo de Damas.

O Eng. Duarte Silva e o Dr. Sena Carneiro indicam, na Bibliografia de Damas Clássicas Pág. 4, que este folheto, além de um resumo das regras do Jogo de Damas, traz apenas, 2 Problemas tirados do Tratado de Cecina Rica, mas o 1° é de Timoneda (1635) e o segundo é de um jogo prático do Tratado de Cecina.

 

Livro Jogo de “Damas” – José Syder

Ano 1903

 

O primeiro Livro, publicado em Portugal, totalmente dedicado ao Jogo de Damas surge apenas em 1903, 21 anos depois do Folheto Jogo de Damas.

É seu autor José Syder (prenome Português mas com nome de família de origem inglesa) de Parada de Gonta, freguesia da cidade de Tondela, distrito de Viseu.

Editado em Lisboa pela Officina Typographica, este livro contém 228 páginas.


Assinatura de José Syder

Em 1961, na História do Problema em Portugal - Tratado da Enciclopédia Damista – II-25, o Dr. Orlando Augusto Lopes escreveu os seguintes parágrafos:

 

 

A Evolução do Problema em Portugal

 

O problema de Damas Clássicas faz a sua introdução em Portugal, pelas mãos aristocráticas de José Syder; mas esse advento é, realmente, pobre.

Na verdade, Syder publica o seu «Jogo de Damas» em 1903, totalmente influenciado pelos tratadistas ingleses e quase integralmente copiado das suas obras, no que respeita ao jogo prático. No problema, precisamente porque não podia haver uma adaptação dos trabalhos ingleses ao nosso estilo, Syder limita-se a apresentar espantosas «ingenuidades».

Se, para o jogo prático, a «escola inglesa» era de uma utilidade reconhecida, para a composição artística, essa «escola» nada poderia oferecer.

Por isso mesmo, havendo uma necessidade do conhecimento dos clássicos espanhóis para um bom aproveitamento do seu alto nível artístico, e, na realidade, havendo um desconhecimento total deles, o problemismo esboça-se em plano muito baixo.

No final do século passado o jogo de Damas era apanágio das classes cultas; não admira, pois, vermos as primeiras composições encimadas por nomes destacados da nossa Sociedade de então.

Eis uma lista de alguns autores dos problemas apresentados no Tratado de José Syder: João de Deus, Mariano de Carvalho, Saraiva de Carvalho, Sousa Lara, Alexandre Herculano, Emídio Navarro, Homem Cristo, Alexandre Braga, António Grandella, Latino Coelho, Lobo d’Avilla, Viscondessa Torre da Murta, Conde Daupias, Conde Mendia, Conde de Caria, Conde de Burnay, Duquesa de Palmela.

Se acrescentarmos a esta lista, o nome do Rei de Portugal, D. Luiz I, poderemos fazer uma ideia real do alto nível a que este nosso jogo se guindou no final da Monarquia.

No entanto, não devemos considerar esta fase rudimentar do Problema em Portugal, integrada na sua História; ela fará parte, quando muito, da sua Pré-história.

 

Dr. Orlando Augusto Lopes – In Tratado da Enciclopédia Damista – II-25 (1961)

 

 

 

Certo que os Autores Portugueses não começaram num patamar comparável aos clássicos espanhóis (muito longe disso), certo que uma elite culta do século XIX encimou muitos dos Problemas publicados nesta obra de José Syder, certo que há soluções incompletas e erros crassos em muitas das soluções destes Problemas, mas relegar estes primeiros originais portugueses para a Pré-história da Evolução do Problema em Portugal, excluindo-os de qualquer apreciação ou comentário, foi quanto a nós, uma opção só explicável pela vontade do Dr. Orlando Lopes de passar rapidamente à fase mais virtuosa da Historia do Problemismo em Portugal que iniciar-se-ia a partir do ano de 1925.

No entanto, nós consideramos que, o Livro de José Syder, sendo a primeira publicação, na História do Problema de Damas em Portugal a difundir originais de autores Portugueses ou a viver em Portugal, terá sempre o mérito de ter divulgado o Problemismo em Portugal e deverá merecer-nos sempre um apreço e reconhecimento especiais, mesmo sabendo que nenhum dos Problemas aí inseridos, atingiria a Fase IV da Tabela de Classificação das Composições Artísticas do Dr. Sena Carneiro, criada exactamente 7 décadas depois, no ano de 1973.

 

Apesar disso, e sem que nem mesmo José Syder se tenha apercebido de todas as suas implicações..., um dos problemas do seu Livro, do/a Autor/a D. Adelaide John, dá resposta a uma das mais profundas questões que se podem pôr sobre o Jogo das Damas Clássicas!

A questão é tão profunda que não temos conhecimento de que algum Damista a tivesse posto, nestes quase 5 séculos em que existe bibliografia sobre o Jogo das Damas Clássicas!

Trata-se da determinação do Limite mínimo da invencibilidade!

 

A questão pode ser enunciada da seguinte forma:

 

 

Tendo a primazia da colocação das peças no Tabuleiro, quantas casas necessita dominar uma das cores, e qual é a força mínima a colocar nessas casas, para garantir a invencibilidade contra um adversário que poderá colocar de seguida as suas peças, nas restantes casas do tabuleiro, até ao máximo da força possível que são 12 Damas?

 

 

Pode parecer incrível, mas, como veremos a seguir, a resposta a esta questão já existe desde o ano de 1903, e pode ser resumida assim:

 

 

É necessário dominar ¹/₄ das casas do Tabuleiro com ¹/₃ da Força Máxima como requisito mínimo para ser possível a invencibilidade contra qualquer força do adversário.

 

 

E a verdade é que se chegou a esta conclusão, sem recurso a qualquer potência computacional, nem com a utilização de qualquer tipo de inteligência artificial.

Apenas foi necessária... a imaginação de um Compositor!!!

 

Livro Jogo de “Damas” José Syder (1903)

Problema 148 por D. Adelaide John

Jogam as Negras e Empatam

 

Solução: 14-11 (início da construção da «Fortaleza»), 30-26, *16-12 (Lance que termina o escudo defensivo de 6 peças Negras nas casas (3), 6, 7, 11, 12 e 15 que se torna numa autêntica «Fortaleza inexpugnável» para as Negras!), 26-19, 8-4 EMP e agora a DN4 movimenta-se ad aeternam nas casas 4 e 8 até que as Brancas promovem todos os seus Peões e concordem com o empate pois nada poderão fazer para tentar ganhar o jogo.

 

Não encontramos, no entanto, justificação para esta posição com as Negras a Jogar, mas é complexo e moroso de o provar.

Até prova em contrário, consideramos este Problema como ilegal ou fantasia.

 

 

 

Para evitar esta incompatibilidade entre posição e primazia do lance, poder-se-ia apresentar o Problema na seguinte Posição que, até aumenta um Lance à solução idealizada:

 

Correcção do Problema 148 de D. Adelaide John

Jogam as Negras e Empatam

 

Qualquer outro lance que não seja o 10-6, as Brancas efectuam, por exemplo, a troca de três peças por duas jogando 1-5 e as Negras não mais conseguirão empatar.

Após o *10-6 (único), 14x10(ou 5) ao que se segue 12-7 (só possível porque a DB foi despregada da casa 19) e 16-12 ficando formada em 3 Lances a «Fortaleza inexpugnável» tal como idealizada no Problema 148 de D. Adelaide John.

 

É de realçar que o escudo defensivo usado pelas Negras neste Problema 148, é o mais económico que é possível formar (mas não é único como veremos):

                               6 peças Negras nas casas (3), 6, 7, 11, 12 e 15 formam uma

 

                             «FORTALEZA INEXPUGNÁVEL»

para as casas 4 e 8 que ficam completamente inacessíveis às Brancas

Jogam as Negras e, no mínimo, Empatam contra qualquer que seja a Força Branca

 

 

Apesar de mal contruído, nós consideramos o Problema 148 como um trabalho ímpar nas Damas Clássicas e, por isso, o mais original do Livro de José Syder!

É uma pérola que brilha no esquecimento do espaço damístico Português há mais de 120 anos, sem que ninguém a tivesse catalogado ao nível temático, nem reflectido em todas as suas implicações!

Seria necessário investigar, nas outras modalidades do Jogo de Damas, em que os peões não comem para trás, nomeadamente nas Damas Anglo-Americanas, se haverá algum problema que utilize esta ideia defensiva e seja anterior a este trabalho publicado no ano de 1903.

 

No entanto, mesmo que tal exista nas Damas Inglesas ou Americanas, nós não temos conhecimento que tal estratégia tenha sido usada em qualquer problema dos Clássicos Espanhóis, ou por autores Portugueses dos Séculos XX e XXI.

Este Problema de D. Adelaide John é o primeiro a apresentar, no Jogo das Damas Clássicas, esta estratégia de Força Mínima (Posicional e Material) que garante a invencibilidade!

 

Este Trabalho permite assim estabelecer um axioma nunca antes enunciado até hoje:

 

 

Nas Damas Clássicas, a Força Mínima (Posicional e Material) que garante a invencibilidade contra qualquer força adversária, mesmo contra 12 Damas, resume-se ao domínio de 8 Casas do Tabuleiro (¹/₄ das casas do Tabuleiro), por 1 Dama e 6 Peões (¹/₃ da Força Máxima). [a]

 

 

[a] Considerando que 12 Damas necessitam 24 Peças da mesma cor para sua formação, e que 1 Dama + 6 Peões necessitam 8 Peças, então 1 Dama + 6 Peões = 1/3 da Força Máxima possível pois 8/24 = 1/3.

 

Apresentamos agora, sob a forma canónica da Composição Artística – com Jogam Brancas, as duas únicas posições que determinam o Limite Mínimo da Invencibilidade no Jogo das Damas Clássicas:

 

 

Força Mínima (Posicional e Material)

que garante a invencibilidade, mesmo contra 12 Damas

 

Casas Dominadas

8

18, 21, 22, 25, 26, 27, 29, 30

Casas Dominadas

8

18, 21, 22, 24, 25, 26, 29, 31

N° de Peças

7

18, 21, 22, 25, 26, 27, (30)

N° de Peças

7

18, 21, 22, 24, 25, 26, (31)

 

D. Adelaide John

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

Eduardo Valente

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

 

Várias outras posições do tipo «FORTALEZA INEXPUGNÁVEL» podem ser formadas, mas invariavelmente, ou o número de Casas a dominar ou o número de Peças a utilizar, é superior às duas posições da Força Mínima que acabamos de ver, ou então não é possível haver 12 Damas adversárias no Tabuleiro.

 

Vejamos alguns exemplos:

 

12 Damas Negras possíveis

Casas Dominadas

9

19, 22, 23, 24, 27,

28, 29, 31 e 32

Casas Dominadas

10

19, 22, 23, 24, 26,

27, 28, 30, 31 e 32

N° de Peças

7

19, 22, 23, 24, 27, 28 e (29)

N° de Peças

8

19, 22, 23, 24, 26, 27, 28 e (29)

 

Henrique Guerra Filgueira

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

Eduardo Valente

 
Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

Casas Dominadas

11

18, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 27, 28, 30 e 31

Nota: As casas 25, 29 e 32 podem

estar ocupadas pelas Negras

Casas Dominadas

18

13, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31 e 32

N° de Peças

9

18, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 27 e 28

N° de Peças

9

13, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 22 e 23

 

Eduardo Valente

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

Eduardo Valente

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

Apenas 10 Damas Negras são possíveis

Casas Dominadas

6

18, 21, 22, 25, 26 e 29

 

Com Negras em 27, 28, (30), (31) e (32)

Casas Dominadas

8

19, 22, 23, 24, 27, 28, 31, 32

 

Com Negras em 25, 26, (29) e (30)

N° de Peças

5

18, 21, 22, 25, 26

N° de Peças

6

19, 22, 23, 24, 27 e 28

 

Eduardo Valente

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

Eduardo Valente

Jogam as Brancas e, no mínimo, Empatam

contra qualquer que seja a Força Negra

 

 

Voltemos agora ao diálogo entre o Mestre e o Damista Novo com que iniciamos este Artigo.

 

Passado algum tempo, o Damista Novo regressa então ao Mestre e apresenta-lhe o seu Problema modificado, tal como havia prometido:

 

Inédito de Eduardo Valente

Jogam as Brancas e as Negras... não empatam

 

- Mestre? Aqui tem o meu trabalho modificado. Agora penso que merece ser apreciado!

- Hum... De que serviu mudares apenas o enunciado?... Só para alertares que o empate se perfila no horizonte? Continua a ser à mesma um espécime de Arte Pré-histórica...

19 peças no tabuleiro? Até fazem sombra umas às outras...

Quem é que se recordará desta posição, um dia depois de a ter colocado no Tabuleiro?

Lembra-te do que dizia o Mestre Francisco Henriques:

 Sem economia não pode haver elegância!” – enfatizou o Mestre.

 

- Mas Mestre, foi exactamente isso que eu quis expressar neste problema – a máxima economia que garante a “elegância”, mesmo contra a máxima força adversária! – retorquiu o Damista Novo piscando o olho ao Mestre.

- Pois... Mas onde está a elegânciano teu Problema se é a Força Máxima que vence?

 

 

Fez-se silêncio por uns instantes.

 

 

- As cortinas que ocultam a elegância”, abrem-se, quase como por encanto, quando... se quer realmente ver! – exclamou com ar sereno o Damista Novo.

 

Depois de proferir esta máxima sobre as cortinas da “elegância”, o Damista Novo expôs ao Mestre tudo quanto tinha lido e analisado nos dias anteriores.

 

Começou por falar-lhe da Caverna de Chauvet, que abriga as mais antigas produções artísticas do ser humano conhecidas até hoje.

- Quando se quer realmente ver, a Arte Rupestre transforma-se num tesouro inestimável! – proferiu a determinada altura.

 

 

Outro assunto que abordou foram as questões postas por Mestre Igrejas no capítulo Obreiros da Evolução da sua obra ABC do PROBLEMISTA, que nunca ninguém ousou responder, nomeadamente as questões colocadas nos dois últimos parágrafos:

 

 

Um outro pormenor que em nossa opinião tem grande interesse, seria conhecer-se qual foi, exactamente, o primeiro problema que em Portugal se publicou de autoria portuguesa.

Não importa se pertence à pré-historia e se está ou não apenas esboçado o conceito da composição de um problema, o que interessa é conhecer como era esse problema e quem foi o seu autor. – António Eduardo Igrejas (1978)

 

 

- Como foi possível, 46 anos volvidos, ninguém ter tentado realmente ver as repostas a estas questões? – inquiriu o Damista Novo.

 

No terceiro tópico da sua exposição ao Mestre, o Damista Novo focou-se principalmente nos detalhes técnicos do conceito de «FORTALEZA INEXPUGNÁVEL» e em todas as suas implicações: ¹/₄ das casas do Tabuleiro com ¹/₃ da Força Máxima !

 

Como cereja no topo do bolo, o Damista Novo terminou a sua exposição, colocando a seguinte questão ao Mestre:

 

- Se não foi porque queriam realmente ver, que outra razão levaria os três espeleólogos amadores a querer explorar a Caverna de Chauvet?

 

- Pronto, pronto, já percebi... – retorquiu o Mestre com ar meio arreliado – Passa-me lá o Jogo de “Damas” de José Syder que está ali na prateleira dos livros SEM INTERESSE, se faz favor.

 

Partindo do salão nobre da imaginação, naquele instante preciso, foi esta a sonoridade de contentamento que ecoou por todo o universo intemporal dos sonhos e da paixão:

 

- Yupiiii !

 


E terminamos esta história, com um final “elegante”!

Trata-se do último terceto do famoso soneto de Francisco Henriques que tem por título

Beleza eterna:

 

E uma verdade límpida decorre: A beleza terrena passa e morre…

- Só no JOGO DAS DAMAS permanece!

 

 

O Leitor poderá encontrar todos os 153 Problemas do Livro Jogo de “Damas” de José Syder (1903) – comentados por Eduardo Valente, no ficheiro Pdf que está disponível no Link 

https://tinyurl.com/153ProblemasLivroSYDER1903


Nos Problemas divulgados nesta obra de Syder, podemos encontrar, por exemplo:

·      O primeiro Final Prático no Jogo das Damas Clássicas com o Tema [N°134] Promoção “FORÇADA” – N°15 de José Syder (já identificado pelo Dr. Sena Carneiro no Volume de Temas do Tratado da Enciclopédia Damista II-932)

·      O primeiro Esquema Português de Luneta (Tema [N°119]) – N°47 de José Syder (já identificado pelo Dr. Sena Carneiro no Volume de Temas do Tratado da Enciclopédia Damista II-869)

·      O Primeiro Problema Português no Jogo das Damas Clássicas – N°53 do Dr. Luiz Ferreira (Viseu) à condição de que o Livro de Syder tenha sido publicado antes do mês de Setembro de 1903.

·      O primeiro Problema diagramado num Livro de Damas Clássicas Português – N°61 de J. Gillman (na obra de Syder só foram diagramados 4 Problemas)

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°131] PRISÃO – N°64 de Liggia

·      O primeiro Problema Português com a Manobra [N°9] AQUISIÇÃO DE TEMPO(s) – N°66 de João de Deus

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°149] TRÊS e DAMA – N°70 de Affonso da Gama

·      O primeiro Problema Português com a Manobra [N°140] RUPTURA de TRIO – N°71 de Padre José de Vasconcellos – Parada de Gonta

·      O primeiro Problema Português com a Manobra [N°15] ATAQUE FLUTUANTE – N°76 de Viscondessa Torre da Murtha

·      O primeiro Problema Português com a Manobra [N°146] SUPORTE – N°83 de Henrique Syder

·      O primeiro Problema Português em configuração Homotética – N°96 de João Soller

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°81] Corte com sacrifício e Recorte executado com Peões em vez de Damas – N°97 de Marianno de Carvalho

·      O primeiro Problema Português em configuração de Monograma – N°99 de Jacinto da Costa Ribeiro

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°148] Tiro nas Transversais! N°107 por Conde de Caria – Bernardo

·      O primeiro Problema Português Homotético com o Tema [N°64] Brooklin (e o melhor até hoje feito neste Tema!) – N°110 por Alex de Castro Coelho

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°95] Desvio de Dama Negra – N°113 de Alexandre Herculano (Escritor, historiador e jornalista português)

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°1] Alonso Guerra114 por Eduardo dos Santos

·      O primeiro Problema Português com Prisão de 4 Damas Negras nas casas 1, 2, 3 e 4 «Muralha da China» – N°117 de Homem Christo (identificado pelo Dr. Sena Carneiro no Volume de Temas do Tratado da Enciclopédia Damista II-921 mas atribuído a Syder em vez de Homem Christo)

·      O primeiro Problema Português com o Tema [N°147] Tiro no Rio – N°124 por Liggia

·      O primeiro Problema nas Damas Clássicas com uma estratégia de empate que nomeamos «Fortaleza inexpugnável» – N°148 por D. Adelaide John.




Solução do Problema Inédito de E.Valente (Br 14, 17, 19, 20, (21), 22, 23, 25, 27, 28, (30), (31) Nr 7, 8, 9, 11, 12, 13, 15 Jogam as Brancas e as Negras... não empatam :

*21-18! (Único lance que evita o Empate! Se as Brancas tentam outra chave, as Negras empatam por 13-10 e 10-6 (ou 10-5) e 6-2 (ou 5-2) EMP ou então por 9-5 e 5-2 e 13-9 EMP pois formam uma «Fortaleza inexpugnável» para o PN8 que, após promoção na casa 4, pode movimentar-se ad aeternam nas casas 4 e 8, garantindo assim a invencibilidade, mesmo contra 12 Damas !!!), 13-10 (para tentar formar a Fortaleza), *18-13 (Único), 10-5 (se 11-6 desmonta a «Fortaleza Inexpugnável» e a superioridade de 5 peças das Brancas [12 Peças Br contra 7 Peças Nr] é suficiente para o GB), *13-6!!! (Único. É esta a razão da movimentação da DB – desmontar in extremis a «Fortaleza Inexpugnável» que daria o empate às Negras!), segue-se 11x2, e não mais as Negras conseguem empatar dada a enorme vantagem Branca com GB fácil.